Suspeito de vender 'antidrone' ao tráfico, TH Joias discutiu uso de drones por criminosos na Comissão de Segurança na Alerj
04/09/2025
(Foto: Reprodução) Suspeito de vender 'antidrone' ao tráfico, TH Joias discutiu uso de drones por criminosos
Quase um ano antes de o deputado Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, do MDB, ser preso na manhã desta quarta-feira (3) por tráfico, corrupção e lavagem de dinheiro, ele participou de uma audiência pública na Alerj sobre o uso de drones por criminosos.
Segundo o Ministério Público do Rio e a Polícia Federal, TH fazia parte de um quadrilha denunciada por intermediar a compra e venda de drogas, armas e equipamentos antidrones.
No dia 24 de setembro de 2024, ele abriu os trabalhos da Comissão de Segurança Pública, da qual fazia parte, em uma audiência que teve a presença de figuras como o secretário de Segurança Pública do Rio, Victor Santos. Não fez comentários e ouviu toda a reunião em silêncio.
Segundo as investigações, o deputado fazia parecer que estava preocupado com a segurança pública enquanto era um membro importante do Comando Vermelho.
"O TH lucrou muito com a venda de drones, com a importação. Esses drones são aqueles antidrones para derrubar os drones das forças de segurança. Eles lucravam 10 vezes mais o valor real do drone, e com dinheiro do Comando Vermelho", afirmou o superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, Fábio Galvão.
O histórico criminal de Thiego era conhecido. Em 2017, ele foi preso por ligação com facções criminosas e posteriormente condenado na Justiça por pagar propina a policiais e vender drogas e armas.
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"Não é surpresa nenhuma do envolvimento dele com o crime organizado. Em 2017 eu era eu estava como delegado titular da nossa Delegacia de Repressão a Entorpecentes e presidi diretamente uma investigação na qual ele foi alvo e condenado, no final dessa investigação, a 14 anos de prisão. Chegou a ficar quase um ano preso e estava recorrendo em liberdade", afirmou o delegado Felipe Curi, atual secretário de Polícia Civil.
“Ele não representava os interesses da população do estado do Rio, mas sim da facção”, pontuou Curi.
Intensa atividade política
TH Joias e Cláudio Castro
Reprodução
Mesmo investigado, Th Joias manteve intensa atividade política. Participou de agendas com o governador Cláudio Castro e aparecia em vídeos exaltando ações de segurança pública.
Em uma dessas gravações, ele dizia: “Em breve estaremos inaugurando aqui, governador, o nosso Segurança Presente.”
Nesta quarta-feira, após a prisão, Castro determinou que Rafael Picciani, que estava no cargo de secretário de Esportes e Lazer do Estado, ocupe a cadeira de Thiego. No ano passado, TH assumiu a cadeira como 2º suplente pelo MDB.
No final da tarde, a exoneração de Picciani do cargo de secretário foi publicada no Diário Oficial do Estado, confirmando sua volta ao parlamento.
TH Joias em vídeo gravado com Cláudio Castro
Reprodução
Histórico como joalheiro
Antes de entrar na política, TH ficou famoso ao ver suas peças de ouro e diamantes usadas por jogadores como Neymar, Vini Jr. e Adriano Imperador ou pela cantora Ludmilla.
TH Jóias na época da sua prisão, em 2017; PMs estão sendo investigados por fazer a segurança dele
Reprodução
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A história do joalheiro começou no Morro do Fubá, na Zona Norte do Rio, onde nasceu. Lá, TH herdou o ofício de seu pai, Juberto.
Após as aulas, o menino ia para a loja da família em Madureira acompanhar o trabalho do pai como ourives e como administrador do local. Aos 19 anos, o caçula de cinco irmãos herdou o negócio e começou a vender joias.
Joias criadas por TH Joias
Reprodução/ Instagram
Ao mesmo tempo em que deslanchava nos negócios, TH apoiava projetos no interior das favelas e patrocinava festas como a do Dia das Crianças em Honório Gurgel. Além disso, usava recursos próprios para financiar atletas e músicos em favelas.
O interesse pela política aconteceu ao conhecer o ex-policial Marcos Falcon, presidente da Portela, que disputava uma vaga como vereador na Câmara do Rio. Falcon foi assassinado dias antes da eleição de 2016.
Entre 2017 e 2018, foi preso após operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Passou 10 meses na cadeia por suspeita, de acordo com o inquérito, de pagar propina a policiais e vender drogas e armas. Também anteciparia a traficantes de comunidades como Muquiço, Vila Aliança, Serrinha e Complexo da Maré as operações policiais.
Apreensões feitas em 2017, quando TH Joias foi preso
Reprodução
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Nas investigações da Polícia Civil, TH é apontado como responsável por lavar dinheiro para as facções Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro e Amigo dos Amigos (ADA).
Essa proximidade com a política levou TH ao MDB. Na eleição de 2022, ele ganhou 15.105 votos. Ficou como suplente e conquistou a vaga na Alerj, em 2024 com o falecimento de Otoni de Paula pai.
Como Rafael Picciani preferiu ficar na Secretaria Estadual de Esporte e Lazer, abriu espaço para o deputado Thiego Santos, que tomou posse após obter um habeas corpus em que garante que responda o processo em liberdade.
Th Joias chega à Superintendência da PF
Josué Luz/TV Globo
Em 2024, à revista Veja, TH se defendeu: "Não tem trânsito em julgado, sou réu primário, ficha limpa".
Atualmente, o deputado presidente a Comissão de Defesa Civil da Alerj, responsável por coordenar ações de prevenção a desastres nas cidades do RJ.
O deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias
Divulgação/Alerj
As operações
TH não tinha sido encontrado em casa, um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, mas acabou localizado em outro conjunto de residências de alto padrão no mesmo bairro.
Ele é investigado por tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro, além de suspeitas de envolvimento na negociação de armas com o Comando Vermelho (CV).
Deputado estadual TH Joias é preso por tráfico, venda de armas e outros crimes
São 2 operações simultâneas, de investigações convergentes. Uma cumpre mandados expedidos pela Justiça Federal; outra, pelo Tribunal de Justiça do RJ.
Ao todo, 18 pessoas eram procuradas em operações simultâneas, e 15 já foram presas (veja aqui quem são).
Gabriel Dias de Oliveira, o Índio, foi preso na manhã desta quarta-feira (3)
Reprodução/ TV Globo
Para o MPRJ, TH utilizou o mandato para favorecer o Comando Vermelho, inclusive nomeando comparsas para cargos na Alerj.
A defesa de TH e dos demais presos não tinha se manifestado até a última atualização desta reportagem.
A Alerj penas disse que “prestou apoio às autoridades competentes”. Já o MDB determinou a expulsão do parlamentar dos quadros do partido (leia abaixo).
Quem é quem na investigação que prendeu TH Joias
Arte/g1
O que dizem os envolvidos
Nota da Alerj
“A Alerj tomou conhecimento na data de hoje da expedição de mandados de busca e apreensão em face do Deputado Estadual Thiego Santos, que foram cumpridos em seu gabinete.
As diligências foram acompanhadas pela Procuradoria da Casa Legislativa, que prestou apoio às autoridades competentes. A Alerj segue acompanhando o caso.”
Nota do MDB
“Diante das notícias de que o deputado suplente TH Joias está sendo procurado pela polícia, com mandado de prisão por suspeita de tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro, além de negociar armas para o Comando Vermelho (CV), o MDB decidiu expulsar o parlamentar.
TH, que já não seguia a orientação partidária em seus posicionamentos e votações na Assembleia Legislativa do Rio, não fará mais parte dos nossos quadros.”